02/11/2018

Vão os cursos online tirar o lugar às universidades tradicionais? - Parte 1

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Conhecidos como MOOC, cujo significado se traduz em "Curso Online Aberto e Massivo", os cursos online são uma fonte quase ilimitada de acesso ao conhecimento global. Havendo cursos pagos e gratuitos, em tantas plataformas, sobre tantos nichos, é certo que todos podem aprender algo novo com algumas horas a conhecer os sites que os alojam.

Estes cursos vêm tentar responder a um problema que surgiu com o acesso generalizado à internet: informação dispersa, desorganizada e com fontes duvidosas. A aglomeração do material organizado de forma lógica, com contexto e bem explicado, cujas fontes, criadores ou "instrutores" sabemos quem são, torna este tipo de informação muito atrativa para as mentes curiosas.

O YouTube tinha já conseguido um papel de destaque neste meio, com as playlists a estruturarem os vídeos e facilitarem a navegação dos conteúdos. O que as plataformas de cursos online trazem é

a qualidade conteúdos. O podermos avaliar os cursos e ler comentários antes de aceder ao material reforça muito a confiança e é especialmente importante quando falamos de cursos pagos.



Formato


A melhor forma de passar informação é utilizando formatos diferentes, e é isso que muitos curss tentam fazer. É comum encontrá-los em vídeo (juntando o áudio e o visual) com documentos escritos e alguma interatividade, através de avaliações e trabalhos.

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Em geral, os cursos online seguem um modelo que permite ter uma experiência dinâmica:
  • Têm um tema principal, dividido em subcategorias
  • Cada categoria tem lições individuais mais específicas para os conceitos a serem transmitidos
  • São normalmente produzidos em vídeo, com suporte visual e escrito como complementos à aprendizagem
  • Dão acesso a um fórum de discussão onde alunos podem colocar e responder a questões, e onde o "instrutor" pode esclarecer dúvidas 
  • Têm pequenas avaliações para percebermos como estamos a compreender a matéria
  • Têm uma vertente prática, seja em trabalhos individuais ou desafios que nos são colocados
Há ainda duas variantes em termos da disponibilidade dos cursos: ondemand ou com calendário.
Os primeiros estão sempre online, podemos aceder quando e onde quisermos sem limitações aos conteúdos. São os que mais facilmente podemos "encaixar" no nosso horário, nos nossos projetos, escolher quais fazer e quando, até em que ordem, e sem preocupação que noutra altura já não existam.

Já os segundos são muito utilizados por instituições de formação, em que disponibilizam mesmo professores para acompanharem os alunos durante algumas semanas, revêm trabalhos, discutem matérias e formas de aplicar o que é dado, permitindo uma aprendizagem mais interativa, por um lado, e uma discussão muito mais aprofundada e rica sobre os temas. Também é possível dentro da duração do curso organizarmos o nosso tempo da melhor forma para aceder a este tipo de curso, mas para tirarmos o maior partido desta modalidade o ideal é seguir o plano semanal e cumprir esses objetivos dentro do prazo para termos mais noção do que conseguimos ou não compreender e aproveitar a disponibilidade dos professores para esclarecer dúvidas - ou ir mais além do que é pedido!


Destaque para os cursos gratuitos!


É verdade, existem milhares de cursos online gratuitos, disponíveis a qualquer hora, em qualquer parte do mundo.

Para mim, como vos explico à frente, isto é mais do que uma questão de aproveitar pechinchas e cupões. É uma necessidade.

Mas se te perguntas como podem cursos ser gratuitos, ou se duvidas da qualidade destes, acredita que não és o único. No entanto, isto é possível, e há algumas formas de fazer dos cursos gratuitos um investimento com retorno para quem os produz. Ora vejamos:

  • Para quem publica cursos de forma independente, os gratuitos podem funcionar como um mecanismo de divulgação de outros produtos e serviços (que também podem ser cursos pagos). Vemos isto com bloggers e profissionais de várias áreas que, ao publicarem de forma aberta estes cursos, nos mostram que são entendidos na matéria e podemos confiar se os contratarmos - quem está à procura de um profissional para um determinado serviço e vir que tem um curso bem cotado e com bons comentários e participantes fica mais segurança em relação ao profissional
  • Para as universidades, servem como um exemplo de trabalho social, reforço da imagem de profissionalismo que os docentes transmitem e qualidade do ensino nessa instituição, além de divulgar o nome da universidade noutros mercados que, tradicionalmente, poderiam não chegar a atingir
  • Para as plataformas, a publicidade é um recurso comum para financiar este tipo de serviços, para pagar o alojamento e todo o pessoal que mantém os sites ativos. É o mesmo modelo que utilizam outras plataformas, como o YouTube.

No fundo, isto não deixa de ser um modelo de negócio, sejam gratuitos ou não. Há formas de rentabilizar as plataformas de cursos online e permitir a milhões de pessoas, todos os anos, aprender mais e progredir em direção aos seus objetivos.



Todos podem publicar...


As plataformas que alojam os cursos online são, muitas delas, abertas nos dois sentidos: todos podem aprender, e todos podem ensinar. Esta característica permite a qualquer pessoa partilhar o que sabe, sem terem de fazer parte de uma instituição.

É mais uma forma de democratizar o acesso ao conhecimento, com as limitações ou inconvenientes tão característicos da internet: estar sujeito a encontrar conteúdos de qualidade variável - e aí entram as reviews.

Hoje encontramos cursos publicados tanto por especialistas de uma área como por pessoas com um profundo interesse e experiência não académica ou profissional. É uma oportunidade que não encontramos assim tão frequentemente nos dias de hoje, conseguir conhecer um tema pelos olhos apaixonados de uma pessoa que não é exatamente certificada no tema ou para ensinar, mas que consegue transmitir o entusiasmo sobre o que está a ensinar que cativa qualquer um!




... até as universidades


O facto de existir tecnologia  para criar este tipo de aulas virtuais é, ou deveria ser, um passo na abertura do ensino superior "ao mundo". Muitas já provaram que este conceito funciona, mas continuam a ser casos excecionais em vez de serem a norma.

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Isto não é só uma questão de luxo das novas tecnologias, mas uma questão de acesso e difusão de conhecimento, que pode ser completamente independente dos rendimentos do aluno e da sua capacidade financeira para conseguir aprender.

Na próxima parte vou discutir como é que isto pode ser aplicado às universidades e possíveis razões de ainda não ser "normal" recorrer ao modelo dos cursos online no mundo académico, pelo menos por cá, apesar da tecnologia que existe e de já muitas recorrerem a ela para chegar a mais pessoas e cativarem novos alunos para o ensino tradicional universitário.

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Disclaimer
Com este artigo não pretendo retirar o mérito às universidades, em Portugal ou noutro sítio qualquer. A meu ver, no entanto, o modelo está desatualizado e o potencial do ensino por profissionais de topo que só encontramos, muitas vezes, nesse meio, está a ser desaproveitado.
Além disto, o meu objetivo com este texto é chamar à atenção para um ponto importante que é a valorização do ensino e a sua importância no combate à pobreza e outros temas que têm sido entraves ao desenvolvimento da sociedade e à dignidade de tantas pessoas. É sabido que quem nasce em meios desfavorecidos tem muito mais dificuldade em ter boas carreiras e vidas mais equilibradas, e isso é negativo tanto para os próprios como para a humanidade como um todo, quando temos capacidade para fazer melhor e atingir outros patamares em áreas como a justiça, a saúde, a tecnologia, etc. 
Vale a pena repensar estes temas, por todos.



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