Ideias não me faltam e vêm num fluxo quase constante de enxurrada. Isto é muito bom, como deves saber. Ter sempre ideias de coisas para fazer.
Mas é um problema, quando queres mesmo cingir-te a uma e levá-la avante.
Bem, o intraempreendedorismo junta-te o melhor de dois mundos! Como?
1 - Iniciativa e oportunidade
O intraempreendedorismo começa com uma iniciativa da tua parte. És tu que tens de fazer uma proposta, soltar uma ideia na qual estejas disposto a trabalhar. Vês algo que pode ser melhorado e sabes como, então encontraste a tua oportunidade. Só tens de ir atrás dela!
No início deste verão comecei a trabalhar num stand de relógios de uma empresa local, que decidiu abrir um novo espaço num hipermercado. Nada de mais, um trabalho como outro qualquer, bastava saber inglês e fazer contas de somar e subtrair. Era um trabalho sazonal, não tinha procurado nada na minha área. O que não me impediu de tentar levar as coisas para esse lado.
Logo na carta de apresentação, propus-me ajudar com a página de Facebook - nada de mais, mas queria abrir uma porta e já tinha pesquisado o que a empresa tinha de recursos online. Uma empresa familiar num setor tradicional como a relojoaria sediada no interior algarvio não seria, à partida, o meio mais propício para entrar no marketing digital, mas o "não" já tinha.
Não por esse motivo, fiquei com o lugar no stand. Como não me falaram mais do Facebook, decidi insistir e escrevi o rascunho de uma estratégia (percebi que sabiam pouco do assunto mas queriam explorar esse caminho, daí que vi que tinha uma oportunidade).
Não por esse motivo, fiquei com o lugar no stand. Como não me falaram mais do Facebook, decidi insistir e escrevi o rascunho de uma estratégia (percebi que sabiam pouco do assunto mas queriam explorar esse caminho, daí que vi que tinha uma oportunidade).
Depois de algumas semanas, sem desanimar, fazendo perguntas e lançando ideias ocasionalmente, recebi um email com indicação para avançar. Estavam dadas as cartas!
2 - Uma oportunidade, duas oportunidades, três oportunidades...
Dizem que um mal nunca vem só, mas as coisas boas também não. A partir do momento em que tens "licença" para te dedicares às tuas ideias dentro da empresa, é muito possível que te comecem a surgir mais desafios, à medida que provas o que és capaz.
Em simultâneo com a autorização de reorganizar a página de Facebook, fui desafiada a criar o layout de flyers para campanhas no stand (para isto, valeu-me ter posto no currículo que tinha estudado Artes no secundário, uma área que adoro).
Se a estratégia de Facebook foi a primeira mostra de que estava aberta a desafios, os flyers foram a segunda. O filho do patrão, Tiago, que estudou Gestão na Universidade Católica, decidiu pôr-me na equipa dos futuros projetos da empresa. Isto incluiu não só mais flyers como também um lugar na discussão estratégica do crescimento da empresa, e muito mais.
3 - Compromissos ajudam a alcançar as metas
Como deves ter percebido, estas ideias tiveram um princípio, meio e fim. O compromisso com superiores é muito importante para conseguir realizar os projetos em que te metes! Ao contrário do que acontece quando estás sozinho, tens algo a provar a quem tem mais poder que tu (a quem tem o poder de te pôr na rua, basicamente).
Tive a sorte de ter o Tiago a colocar-me prazos apertados e a exigir sempre feedback das propostas e trabalhos feitos, das reuniões e das ideias que iam surgindo. Prazos apertados são ótimos para nós que temos muitas ideias e nos dispersamos com facilidade! A exigência de feedback - que ele também dava - é uma forma de manter a comunicação e valorizar o que foi pensado pela equipa.
Vai haver alturas em que vais ter responsabilidades de médio-longo prazo com as tuas ideias. E pode ser complicado manteres o interesse nesses projetos que, apesar de terem sido iniciativas tuas, acabam por perder o caráter de "novidade" que tanto te dá ímpeto para trabalhar até à exaustão.
Em relação à página de Facebook, podia desanimar por ser um trabalho constante. Tive de encontrar formas de me manter interessada neste, que foi o primeiro desafio que coloquei e aquele que mais ia servir para me avaliarem.
Para conseguir manter-me motivada, procurei formas de melhorar sempre (conseguia avaliar bem o desempenho através do Facebook Insights). Variar o tipo de publicação, interagir com outras páginas, partilhar o que havia de novo no mercado, etc. Estar atenta ao que resulta ou não e canalizar a criatividade para conseguir melhorar o desempenho e atrair mais clientes foi o modo que encontrei para continuar. Afinal, o compromisso continuava lá, e isso faz-me continuar.
4 - Resultados e reconhecimento
O que te move, e a mim também, é saber que temos ideias capazes de fazer melhor por alguma coisa. Ver as nossas ideias tornadas realidade é muito do que esperamos vir a alcançar. E é frustrante para nós quando as ideias falham e não há resultados.
O que tem de muito gratificante do intraempreendedorismo é precisamente veres os resultados das tuas ações. Estás tão no meio da linha de fogo que há sempre resultados: ou chegas a porto seguro ou morres. Não há meio termo. E tens sempre um coronel que vai ver também o que conseguiste. Se tiveres sorte, como eu tive, esse Coronel vai reconhecer o teu esforço.
Comecei a perceber que contavam mais comigo, não só pelas tarefas extra de marketing que me davam, mas também pela forma como lidavam comigo em relação ao dia-a-dia no stand. Aos poucos, ia ocasionalmente para outra loja para dar apoio, substituir alguém, etc. Fazia de ponte de contacto entre essas lojas, e pediam-me mais coisas do que às minhas colegas.
O trabalho no stand, como podes ver, não parou apesar do resto. Com as horas extra, disponibilizar-me para ajudar em tudo e aprender o máximo fez a diferença e começaram a confiar em mim. Integrarem-me nos projetos de futuro foi mais uma forma de reconhecimento que me deram.
Para o caso de estares com curiosidade, sim, o ordenado ao fim do mês também aumentou. O meu part-time ficou com horas a mais do que o que estava no contrato e a remuneração também. Mas não foi por isso que entrei numa atitude de empreendedorismo dentro da empresa. Foi mesmo porque queria provar a mim própria que conseguia tirar as minhas ideias do papel, marcar a diferença e não deixar passar aquele trabalho como só mais um trabalho sazonal.
5 - Fim do contrato
Com o fim do verão, chega também ao fim o meu contrato de trabalho. Não formalmente ainda, o Tiago já me falou na hipótese de continuar na empresa. O stand vai fechar mas quer-me no departamento de marketing.
Como podes ver, o intraempreendedorismo abriu-me a porta para um cargo na minha área durante uma época em que o Algarve é conhecido pelo desemprego em massa. Isto, partindo de um lugar tão comum como lojista num stand dentro de um hipermercado.
Realidade: se os responsáveis da empresa não fossem tão abertos, teria de batalhar muito mais. Apesar disso, acredito que a partir do momento em que decidas que queres fazer a diferença, com as tuas ideias e vontade de trabalhar, vais conseguir dar a volta até aos chefes mais teimosos.
Joana Pedroso trabalha nas áreas de marketing, design e comunicação.
Tem como hobbies escrever e estudar, adora viajar e comer sushi.
Ambiciona construir a sua própria empresa e ter um espaço para ajudar os jovens a seguirem caminhos alternativos à educação tradicional.
Artigos recomendados: