01/06/2015

Os Meus 5 Erros Profissionais Mais Dolorosos (e o que podes aprender com eles)

0. Nota Introdutória


Este artigo tem o objetivo de te alertar para 5 erros com os quais é extremamente provável que te vás cruzar. Eu cruzei-me. Errei. Mas aprendi. E hoje, sou melhor porque passei por esses erros.
No texto que se segue, vou contar-te várias histórias complexas e que, nalguns casos, se estenderam anos. Mas vou fazê-lo de forma resumida, o que vai deixar de fora algumas partes das histórias.

Como o objetivo é partilhar os meus erros pelo seu valor (espero) pedagógico, fiquei-me pelas secções de cada história que considerei serem mais úteis para ti. Falo de empregos que tive, escolas que frequentei, da educação que tive, entre outros, em que tive tanto boas experiências como más.

Dada a natureza do artigo, é natural que te pareça que o foco está nestas últimas. Mas tudo serve para te contar a história que mais te vai ajudar a preparar para estes erros:


1. Burnout ou Achar Que Sou O Super-Homem


É uma questão de tempo até esbarrares contra esta parede. Infelizmente, é uma lição que só se aprende depois de várias noitadas, diretas, noites mal dormidas, refeições que não acontecem ou que transbordam com tanta gordura que seria mais saudável pedires um shot de Óleo Fula.

Super-Homem 5 Erros Profissionais


Tal como eu aprendi, evitar este erro no início da carreira é extremamente difícil - para não dizer impossível. Tens de conhecer muito bem os teus limites e, se nunca os ultrapassaste, como é que podes saber quanto trabalho é demasiado trabalho?

O meu primeiro “burnout” (for the record, não os coleciono) veio de um acumulado de 2-3 meses com muitos projetos urgentes e importantes, que implicaram muitas noitadas, fins de semana e, mesmo quando não havia horas extra e saía a horas decentes, o nível de esforço nas 8-9 horas do dia de trabalho era daquele “à séria”.

Se a memória não me falha, tinha uns 23 anos, 24 no máximo. Quando dei conta, estava sentado na minha secretária, a olhar para uma folha Excel complexa mas que normalmente domino e… NADA. Não fazia a mínima ideia de como ia adiantar o meu trabalho. Não estava a conseguir tomar decisões sobre o que viria a seguir. Nem que fórmula usar, nem que célula. NADA.



Claramente, depois de 2-3 meses a puxar furiosamente pelos neurónios, estes tinham optado por tirar uma sabática sem me informar. E até nas decisões e tarefas mais simples, eles se recusavam a ajudar. Lembro-me perfeitamente de não conseguir decidir o que jantar. Yip, that bad.

Entrei num mini-pânico, porque era uma situação com que nunca tinha lidado e não percebia exatamente o que se estava a passar (aperceberes-te que estás a perder a cabeça quando estás a perder a cabeça não é um processo simples…).

Liguei a algumas pessoas de confiança - e que já tinham passado por isso - e tornou-se claro que tinha de parar e deixar a minha cabeça recuperar.


Voltei do almoço e sentei-me com o boss, contei-lhe a história e ele percebeu muito bem o que se estava a passar. Fiquei 10 dias fora, o que deixou 2 colegas meus em contra-pé a apagar um fogo que não atearam, mas com que conseguiram lidar até ao meu regresso. Essa foi a pior parte de me ir embora. Mas, em minha defesa, Sr. Dr. Juiz, também andei muitas vezes de extintor na mão.

Pensei no que se tinha passado, recuperei (o suficiente), regressei, acabei o trabalho e nunca mais cometi este erro com a mesma violência. 

Se optares por uma carreira de grande responsabilidade numa indústria exigente, vais dançar muitas vezes o tango com a exaustão.

No entanto, vais reconhecendo cada vez mais os sinais de “burnout. Eu noto que vem aí qualquer coisa menos boa com alguns destes sinais, por isso mantém-nos em conta:

  • Cansaço físico constante, nomeadamente corpo dorido, dores de cabeça e sonolência, que não precisa de ser tão dramática quanto isto:

  • Dificuldade cada vez maior em resolver situações e tomar decisões que, normalmente, despachamos depressa
  • Produtividade marginal cada vez mais reduzida
  • Estás cada vez menos alerta e participativo em situações sociais
  • Fazes cada vez menos esforço para cuidar de ti (alimentação, vestuário, apresentação, etc), porque até esse tipo de tarefa já parece consumir demasiado os neurónios. Se estiveres como na imagem abaixo, podes ir uma semana descansar para o spa, à minha responsabilidade.



Solução: no início, como te referi, é muito difícil reconhecer bem os sinais, porque a linha que separa cansaço e exaustão é muito subtil. Mas vai-te perguntando se o teu workload é razoável para o tempo que tens para o despachar e a frescura com que estás, se as tuas horas extra são uma exceção ou uma regra, e vai-te autocontrolando no que diz respeito aos sinais que listei acima.

E, regra básica, depois de um grande trabalho, DESCANSA. O teu corpo e a tua cabeça trabalham para chegar aos objetivos a que te propuseste em muito menos tempo do que é razoável. Por isso, chegou a altura de parares na bomba de gasolina, porque o indicador pode não estar no “Vazio”, mas está bem perto.

Os carros têm o indicador da gasolina para nos dizer que está a chegar a altura de encostar. Nós temos apenas a nossa autoperceção e, se tivermos boa companhia, a perceção de alguns outros. Usa-as, mesmo que te sintas um pouco idiota a fazer perguntas e a dizer como te sentes.


2. Não Fazer Exercício ou Ir De Cavalo de Corrida para Gato Doméstico


Até ao liceu, era capaz de chegar à terceira hora de um jogo de futebol a correr mais depressa do que no início. Este tipo de forma física fazia-me maravilhas, exceto quando os defesas se irritavam “porque aquele ali não pára de correr” e confundiam as minhas canelas com a bola.


Nos anos que se seguiram, levei a cabo o árduo trabalho de deitar por terra toda a boa forma física que tinha tido até então.

Por um lado, isto aconteceu porque me foquei erradamente e em demasia no “fitness mental” - estudar coisas em paralelo com o curso, conseguir desenvolver projetos fora do trabalho, ser um pouco mais inteligente, mais informado, mais criativo todos os dias.

Por outro lado, com essas várias pontas para segurar, é fácil perder-se a disponibilidade mental para cuidar da forma física. A sair tarde do trabalho, com escrita criativa para ir estudar ou qualquer coisa para escrever ou um vídeo para editar, a última coisa em que me queria meter era num ginásio a correr numa passadeira.


Resultado: nas poucas vezes em que voltava a jogar futebol, o primeiro sprint deixava-me 1 minuto a tentar recuperar o fôlego. Ia nadar na piscina ou na praia, e:


Porque é que este é um erro profissional? Simples. Está cientificamente provado que o exercício físico nos deixa mais calmos, mais “sintonizados” com nós próprios, ajuda-nos a dormir melhor e a termos mais energia e melhor disposição.


Solução: (re)começar lentamente e de forma descontraída a fazer exercício. O suficiente para sentires que te estás a esforçar. Hoje, estou de volta a uma vida com exercício, não para jogar futebol durante 3 horas mas sobretudo para me sentir bem. O que, acredita, acontece mesmo ao fim de 20-30 minutos a correr. Melhor decisão que tomei nos últimos meses (possivelmente destronada pela iminente subscrição do Netflix).

Tenho uma nota de 20 em cima da mesa que diz que vais concordar comigo se experimentares. Se já fazes exercício regularmente, peço-te que não me tires a nota e fujas porque, apesar de eu já estar com algum bom ritmo, é provável que tu tenhas mais “cardio”.


3. “Vida Pessoal”? Isso é o quê, exatamente? Tenho de ir ver ao Google


Outra ideia brilhante que tive foi a de pôr a minha vida pessoal completamente fora da lista de prioridades.

Tive um bom número de anos (não me atrevo a contar) em que me foquei no trabalho e na minha formação. Entenda-se: o “day job” (consultor de gestão e fundos europeus), o treino em escrita criativa e marketing digital e nos projetos fora do trabalho, como o WP e o Heelbook.


Esta opção trouxe coisas boas:

  • Muito mais tempo, concentração e energia para dedicar a estes projetos, nomeadamente os extra-trabalho
  • Menos “distrações”
  • Menos tumultos, depois de várias coisas pessoais entre amigos e amores que não me deixaram com grande fé na raça humana



E, sobretudo, um nível elevado de experiência e conforto com vários tipos de trabalho (desde escrita, business planning a marketing digital) que, com uma vida mais dividida entre o profissional e o pessoal, nunca teria

Não obstante as coisas boas, já deves estar a adivinhar que a minha opção teve um preço. Uma vida em que não cultivas as tuas amizades - e as outras coisas também - é uma vida muito menos rica e muito menos divertida de viver.

Profissionalmente, isso tem reflexos, embora sejam muitas vezes subtis. Assumindo que não cais na categoria de “lobo solitário”, uma vida a solo - em que não tens a companhia de pessoas dinâmicas, divertidas, que te fazem ver as coisas de outra forma - é uma vida que te vai pesar cada vez mais, porque te vão faltar coisas essenciais:

  • Divertires-te na companhia de pessoas de que gostas
  • Teres quem te dê conselhos
  • Teres quem te encoraje no teu caminho

  • Teres quem te apoia nos momentos difíceis
  • Sentires que, literalmente e figurativamente, não estás sozinho neste mundo

Desde que abri a pestana para esta questão, sinto-me muito mais feliz. Por exemplo:

  • Tenho amizades com algumas pessoas que já conhecia, mas muito mais fortes
  • Fiz novas amizades, com pessoas interessantes e dinâmicas que já me ensinaram coisas bem importantes
  • Tive uma excelente relação de vários anos com uma mulher espetacular, pela qual não trocava nada e que muito me ajudou a desfazer a tal falta de fé nestes humanos

Tudo isto porque, como diz o cliché, estava lá e fiz para que essas coisas acontecessem. Na secretária, à frente do computador, por muito trabalho que adiantes, vais estar muito longe do maior recurso natural do planeta: a companhia de pessoas inteligentes com quem aprendes e te ris.


Se fores mais feliz, vais sentir-te numa situação mais equilibrada, o que significa que vais ter menos coisas negativas na tua cabeça a trazer-te para baixo. Quando estás em cima, até podes não trabalhar mais, mas trabalhas melhor e vives melhor, de certeza.

Solução: tu sabes qual é a solução. O telefone não é só para postar imagens dos teus abs no Instagram. Call a friend. Call two friends. Call your crush.



4. Confundir Sucesso com Felicidade ou “Tou Feliz Porque Tive Prémio”


Este é gigante. Para muitas pessoas, o sucesso e a felicidade estão entrelaçados, ao ponto de serem a mesma coisa.



Eu não sou uma dessas pessoas. Mas durante bastante tempo, pensei a minha vida como se fosse, em parte pela influência das pessoas com que cresci, em parte porque - cliché dos clichés - não sabia o que sei hoje sobre como navegar pela vida.

Profissionalmente, este erro #4 pode ser a morte do artista, pelo simples facto de que é perfeitamente possível teres baldes de sucesso… sem um pingo de felicidade.

Embora o meu caso não seja dramático a esse ponto, sou um bom exemplo de alguém que confundiu sucesso com felicidade. Várias vezes.

Licenciei-me em Administração e Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa (UCP) em 2005. Apesar de ter os skills próprios da área, não tenho por ela grande paixão.


Puxado pelo meu próprio sentido de responsabilidade e pela influência de uma família preocupada com colocar-me no melhor curso, com a maior probabilidade de emprego, agarrei uma bolsa oferecida pela UCP que eliminou 1/4 do custo do curso. O meu pai gostou desta última parte. Até tirei uma foto à reação dele:


Depois de um estágio na Ogilvy como gestor de clientes e copywriter, e de alguns meses à deriva num mercado de trabalho que já dizia “olá” à crise, encontrei uma empresa disposta a apostar em mim, na área dos fundos europeus.


Para quem foi para a Católica pelo incentivo de facilitar a sua entrada no mercado de trabalho - o curso de Gestão tinha ou aproximava-se ridiculamente dos 100% de empregabilidade - enquanto tentava, em paralelo, aprender a escrever longas metragens, o mundo estava a desfazer-me as expectativas: como escritor/criativo, eu não estava minimamente pronto. Como gestor recém-licenciado, não tinha perspetivas encorajadoras de emprego.


Por isso, deitei mãos à obra na profissão a que tive acesso e abracei o desafio de uma área diferente, na qual não não me via, da mesma forma que não me via na UCP. Mas isso, nesse momento, pouco importou. Tirando estágios de futuro duvidoso e call-centers, ninguém apostava neste recém-licenciado, por isso dediquei-me a ser cada vez melhor naquela empresa, para justificar essa aposta aos sócios e a mim mesmo.

Tive sucesso. E, enquanto ia subindo, tendo mais responsabilidade e mais dinheiro a ir para o meu NIB, confundi sucesso com felicidade.


Para um desempregado com carreira por definir, com o sonho de entreter uma audiência mas ainda sem o treino necessário para o fazer, o aparecimento de um rumo e de um salário foi uma grande fonte de equilíbrio para um barco que estava a precisar.


Mas, infelizmente, na minha opinião, este sucesso não deu em genuína felicidade. Foi um rumo profissional alternativo que tinha muitas vantagens (estabilidade, dinheiro), mas que não me proporcionou a realização que eu queria. Tirando iniciar conversas cómicas no open space, não consigo entreter as pessoas a trabalhar no Excel ou a ligar para o IAPMEI.

Todos os dias, eu estava a negar um dos nossos instintos mais primais (a perseguição da vocação profissional). Se o teu sonho é tocar guitarra, vais sentir-te mal se passares dias sem a tocar. Estás a afastar-te de quem és e do que és. Eu ia dando uns toques na “guitarra”, mas o meu dia era passado muito longe da minha “música”.


Tinha sucesso, porque fazia bem o meu trabalho e era premiado por isso. Mas não era feliz. Não sei como é que tu és quando estás infeliz mas, para mim, é só uma questão de tempo até deixar essa infelicidade contagiar os outros e, claro, eu próprio afundar-me.



Solução: vamos supor que tens liberdade (também conhecida como “dinheiro no banco”). Se sim, examina o que sentes sobre a tua situação profissional e a importância que dás ao sucesso e à felicidade.

O meu pai dizia-me que “só 2-3% das pessoas gostam do que fazem”. Possivelmente, és capaz de rapidamente relativizar uma situação profissional menos boa, e encontrar a tua felicidade noutras coisas. Se sim, problema resolvido.

Eu descobri que a minha felicidade num “departamento” (vida amorosa, amizades,…) não cancela a minha infelicidade noutro. Se também és assim, podes - com mais ou menos velocidade - ir preparando a tua saída para algo melhor.



5. Não Falar Mais Cedo ou “Não Vou Dizer Nada… Mas Também Não Me Vou Esquecer”


Um dos meus projetos favoritos em que já estive envolvido é o WP (Wrestling Portugal).



O meu amigo Bruno chamava-lhe a “escola de marketing”. Não podia concordar mais, porque não vejo maior esforço de promoção e marketing no mundo do que o de vender um desporto (que não é desporto, mas sim espetáculo) em que rivais se odeiam (na verdade, vamos todos jantar ao McDonald’s a seguir ao show) e que só conseguem resolver os seus problemas num combate (em que, ao contrário dos filmes, não há cortes/montagens/efeitos especiais para fazer os golpes parecerem reais), a caminho de terem uma oportunidade para serem o número 1: o campeão nacional (de um desporto que, mais uma vez, não é desporto, mas sim espetáculo).


Fui um dos fundadores do projeto e escrevi, produzi, editei, interpretei e (obrigado, UCP) geria e coordenava a estratégia do projeto que reuniu os maiores talentos nacionais do ramo, muitos criados na própria Academia do WP.

Gradualmente, o projeto foi-se revelando um sucesso (felicidade incluída), embora o trabalho e a responsabilidade fossem aumentando. No meu caso, passei de editor do site WrestlingPortugal.com para escritor dos shows, produtor, editor dos vídeos, dando uma aula aqui e ali e encarnando uma personagem na própria narrativa dos espetáculos.


Eventualmente, tornou-se demais. Lembro-me de relegar frequente e completamente para segundo plano o meu próprio papel no espetáculo, pela simples razão que o roster, a produção, as dúvidas e imprevistos vinham primeiro.

Tinha sempre uma ideia do que ia dizer ao microfone para fazer a minha “storyline” progredir mas, com tantas outras coisas para tratar, lembro-me que não foi nem uma nem duas vezes que fui para o ringue sem grande ideia do que ia dizer, por já estar tão “acelerado” que olhar ou não olhar para as minhas cábulas… era igual.

Quando a MEO e a NOS aceitaram o desafio de começar a divulgar os nossos conteúdos nas suas plataformas de video-on-demand, apareceu a palha que partiu as costas ao camelo.


Com a responsabilidade acrescida de alimentar - além de um site - as plataformas VOD com conteúdos frescos, a carga de trabalho tinha-se tornado excessiva.

O trabalho tornou-se excessivo por três razões:


  • A distribuição do mesmo não era equitativa. Para mim, isto era particularmente problemático, já que estava a trabalhar como consultor de gestão ao mesmo tempo, o que significava falta de sono, com frequentes imitações de Walking Dead
  • Havia falta de recursos humanos em áreas-chave, como a produção de conteúdos. Apesar da seriedade profissional com que encarávamos o projeto, não deixava de ser um hobby num mundo em que todos tínhamos responsabilidade a que não podíamos fugir, o que significava ter menos ajuda do que a ideal.
  • Devido a este erro #5… não falei mais cedo. Apesar de ter reconhecido esta tendência, eu não falei, não discuti, não comecei a lutar tão cedo quanto o podia ter começado a fazer

Este #5 é comum em projetos de paixão, sobretudo quando ganham ímpeto. Estamos numa montanha russa de divertimento, a concretizar um sonho que parecia inatingível (wrestling em Portugal, a sério? O quê? E bem feito?) e, mesmo vendo e reconhecendo crescentes dificuldades a vir de dentro da organização, não queremos parar, não queremos acordar do sonho.

E, se começarmos a abrir frentes de batalha (ainda que válidas), estamos a aumentar o risco de implosão de um projeto de sonho, cujo equilíbrio era muito sensível.



Não fiquei calado. Aliás, longe disso. Mas não levei a conversa sobre ter mais ajuda até onde a devia ter levado, exigindo (em vez de pedir) uma solução e procurando que a mudança viesse de dentro.

Quando dei por mim, tinha sido apanhado numa nova avalanche de trabalho oriundo do WP e do meu emprego diurno, ao ponto de ter de encarar o facto de o meu projeto de sonho estar claramente a sair do seu período de lua-de-mel.

Finalmente, quando parti para a conversa num modo mais sério e definitivo, foi para dizer que tinha de me afastar, pelas razões que escrevi acima. Ainda tentei reestruturar a equipa responsável, na esperança que a entrada de duas pessoas frescas e igualmente entusiasmadas com o projeto colmatasse a falta de profundidade da equipa.

A reestruturação acabou por não acontecer e eu saí. Embora seja perfeitamente possível que eu esteja enganado, não acredito que, se falasse mais cedo, o final fosse diferente.



Mas… fiquei com essa lição para o futuro.

As situações de desequilíbrio nas empresas/projetos não são doenças. São sintomas. Não são causas, são efeitos. São efeitos originados por uma gestão menos cuidada desses desequilíbrios - no caso do WP, carência de RH que levou a demasiado trabalho concentrado num número reduzido de pessoas.

Solução: não ter medo e afirmar o óbvio. Existe um problema que precisa de ser resolvido. O risco de implosão não vai aumentar por causa disso. Já lá está. Quanto muito, abanando o barco, acelera-se um processo que já estava a decorrer. Mas, na melhor das hipóteses, resolve-se o problema antes de ser tarde demais. E o sonho continua.


O reconhecimento do que não está a funcionar, a indisponibilidade para ignorar essas situações menos boas e o confronto direto e construtivo com as outras pessoas envolvidas é a solução óbvia, mas nem sempre seguida.

Se gostas do que estás a fazer, luta. E luta da forma mais inteligente que conseguires.

6. Notas Finais


Este é o meu “best of”. Não é um “worst of”. Talvez não pareça, mas os erros são das coisas mais educacionais que te podem acontecer.

Um erro é uma mensagem que te é enviada a dizer “assim não”. Os erros não param a tua viagem, simplesmente a corrigem.

É normal, em momentos de alguma fraqueza e fragilidade, concluirmos que os nossos erros validam o nosso maior medo: o de não sermos bons o suficiente. O de os nossos erros terem origem em falhas da nossa pessoa que nos condenam a nunca chegar aos nossos sonhos.

Nada podia estar mais longe da verdade. Por cada “assim não”, somos expostos às partes de nós que ainda podemos melhorar.

O fator determinante está no que decidimos fazer depois de cairmos: o único erro que verdadeiramente existe é o de não aprendermos com os nossos tropeções. Os outros, são apenas lições que vais tendo pelo teu caminho.

Para nos despedirmos, deixo-te aquele que é provavelmente o melhor conselho que já me deram:


Qualquer coisa, estou no malheiro.afonso@gmail.com.



Muito obrigada Afonso Malheiro pela partilha de mais um grande artigo!





Sobre o autor:

Afonso Malheiro trabalha nas áreas de digital content, entretenimento e gestão. 

Nunca perdeu um jogo do galo e alega ser capaz de fazer "like" a um post duas vezes. 

Ambiciona viver num mundo em que o ambiente não está poluído e não há spoilers de Game Of Thrones.





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