01/04/2019

Responsabilidade Ambiental II - Testemunho de uma Empresa Responsável

Responsabilidade Ambiental


As escolhas mais pequenas que fazemos enquanto consumidores vão além dos efeitos imediatos que têm no nosso dia a dia. Influenciam as pessoas à nossa volta, as entidades responsáveis por gerir a nossa cidade ou país, e até as empresas que nos fornecem aquilo que precisamos.

Como vimos no primeiro artigo desta série, o impacto direto e indireto das escolhas dos consumidores tem vindo a ter efeitos significativos no posicionamento estratégico das empresas, que mais contribuem para os problemas ambientais dos nossos dias. Empresas começam a tomar medidas para serem mais sustentáveis ou sofrem pesadas consequências através da perda de clientes e até sanções económicas por parte dos Estados.

Para os mais céticos em relação à existência de uma escolha consciente por parte dos consumidores, falei com a Sapato Verde sobre este assunto para perceber a importância da sustentabilidade no mercado, desde que surgiu a empresa até aos dias de hoje.

Responsabilidade Ambiental

Empreendedorismo sustentável – um orgulho


A Sapato Verde, uma loja de calçado vegano, surgiu precisamente como manifestação de descontentamento face ao estado da indústria da moda, no que toca à questão de sustentabilidade ambiental. 

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Para o consumidor consciente, não existia em Portugal uma loja de calçado com garantia sobre a origem dos materiais, que respeitasse os direitos dos animais, mas também dos trabalhadores em todas as fases do processo de fabrico.

O movimento vegano, ainda que com muitos adeptos, não via ainda respostas das empresas. Além da necessidade pessoal, depararam-se com dois fatores que validavam o potencial económico da ideia: empresas veganas estrangeiras apostavam em calçado produzido em Portugal com estas características e a única marca vegan portuguesa na altura (NAE) estava a ter um crescimento considerável quando surgiu em 2008. Estes dados eram suficientes para dar confiança e fazer nascer o projeto.

A Sapato Verde adotou este conceito vegano com orgulho e manteve a sua missão à medida que expandia para outros produtos relacionados. Acessórios e produtos de higiene viram o seu lugar na loja, junto aos sempre centrais sapatos que continuam a ser o foco. O movimento vegan encontra aqui uma oferta responsável, que passa por um processo de análise sobre os materiais e ingredientes e a forma de produção, e são experimentados e testados pela empresa para uma garantia de qualidade acrescida. “Somos os nossos primeiros clientes” acrescenta Alexandra Pardal, fundadora da Sapato Verde.


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Responsabilidade social e ambiental – perceção dos consumidores


Um sinal claro de que as empresas em Portugal têm espaço para crescer é o facto de consumidores conscientes estarem a tornar-se empreendedores.

Abrir uma empresa, em especial uma loja física com inventário, não é uma decisão que se tome de ânimo leve nem de um dia para o outro. É preciso identificar um problema, neste caso verificar que não havia lojas de calçado vegan, e perceber qual a dimensão do mesmo, se existe um número considerável de pessoas afetadas e que precisavam de uma solução adequada.


   » »   Artigo da Forbes “Porque importa ter marcas sustentáveis” (em inglês)


Para Alexandra Pardal, a consciência pessoal e o movimento vegan em Portugal, bem como o impacto que estavam a ter na indústria foram sinais claros de que era uma boa oportunidade.

Em relação à perceção que os clientes podem ter em relação aos preços, a resposta é brilhante e reflete bem como estes valores são reconhecidos pelo público:

“Deveríamos perguntar-nos porque motivo a roupa normalmente é tão barata. Para nos custar menos a nós, custou mais a alguém que a fez ou ao ambiente, através de mão de obra precária ou materiais de pouca qualidade ou até nocivos. Que justiça há em calçado e vestuário produzido por pessoas com ordenados miseráveis e em más condições?

Comprar com consciência também significa comprar apenas o necessário, e não encher o armário só porque é barato. Apostar em calçado de qualidade, por exemplo, é também um investimento a longo prazo. Dura mais, o que resulta em comprar menos e fazer menos lixo”.

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Segundo a Sapato Verde, os clientes não costumam questionar os preços porque a maioria tem consciência destes fatores e faz escolhas informadas. Quem a procura valoriza a missão e escolhas da empresa e reconhece esse esforço, como podemos ver pelas excelentes avaliações e comentários no Facebook da Sapato Verde.


Ventos passageiros ou de mudança


Para a Sapato Verde, existem ainda obstáculos que dificultam o trabalho às empresas no que toca à responsabilidade ambiental. Se, por um lado, o impacto que podem ter é extremamente positivo, os incentivos são poucos. Em Portugal, certas empresas que prejudicam o ambiente e os animais em vez de serem castigadas são apoiadas e protegidas por leis desatualizadas.

“Empresas que têm como objetivo o bem-estar de todos os seres e a sustentabilidade são, na maioria, vistas como nichos de mercados. Não somos um nicho, somos empresas que nos movemos por algo mais que ter lucro fácil e rápido, mas que, como qualquer outra empresa, temos encargos fiscais por vezes incomportáveis”. 

Apesar dos desafios, esta realidade tem vindo a mudar, muito graças ao esforço e empenho dos consumidores. Já não são pequenos focos de pessoas interessadas pela proteção do ambiente e da sociedade, mas sim um conjunto sem fronteiras de movimentos cujo impacto está a atingir empresas e instituições como uma bola de neve.

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E com tendência para aumentar. Com uma ação global a ser cada vez mais urgente, multiplicam-se os apelos e as mudanças de mentalidades são cada vez mais rápidas com pessoas a mudarem de hábitos e escolhas diariamente e mais personagens de todas as áreas a darem voz à importância de proteger a natureza e as pessoas.

E nós?

Todos nós podemos ter uma atitude mais proativa na proteção do ambiente, de acordo com os nossos próprios valores pessoais. Enquanto consumidores ou enquanto empreendedores, ou mesmo trabalhadores ou responsáveis de empresas estabelecidas, há muito que podemos fazer para participar neste desafio de tentar rever o mal que foi feito à natureza. 




Não leste a primeira parte desta série? Podes ler aqui:
Responsabilidade Ambiental I - O Impacto dos Consumidores



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